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Os 115 Anos do Coro Luterano de Brusque

Conteúdo publicado no especial Palavra Cantada do Jornal O Município. Acesse aqui.

Concomitantemente ao aniversário da Reforma Luterana, celebrada em 31 de outubro, comemora-se, na Paróquia Bom Pastor, em Brusque, o aniversário do Coro Luterano. Neste ano, o grupo de canto completa, oficialmente, seus 115 anos – porém, já está há mais tempo na estrada.

A data oficial de fundação do coral é 1903. O grupo de canto foi criado com o objetivo de abrilhantar os cultos natalinos celebrados na comunidade, e até hoje participa de eventos e datas comemorativas do calendário eclesiástico, como Natal, Páscoa, Semana Santa, Advento e outros momentos. Sob a coordenação do pastor Edelcio Tetzner, o coral também marca presença mensalmente nos cultos da paróquia.

De acordo com ele, a música sempre ocupou um espaço especial na relação do ser humano com Deus: “É a mensagem divina transmitida de forma harmoniosa que nos emociona, toca e nos conecta com Deus e sua mensagem”.

“O salmista, no Salmo 100, faz esse convite: ‘Prestem culto a Deus com alegria, entrem na sua presença com cânticos alegres’. Na tradição luterana, encontramos em Lutero um artista que viu na música o seu valor e não poupou esforços para reter o que tinha de bom na tradição, mas que não deixou de inovar. Hoje o cuidado com a música envolve cada Igreja Luterana, desde a formação de novos músicos, respeito à hinologia tradicional e abertura para o novo”, completa Tetzner.

No entanto, o pastor percebe também a dificuldade de encontrar pessoas para produzir novas letras e novas melodias que correspondam à espiritualidade do povo luterano.

Coro Luterano de Brusque
Registro de apresentação do Coro Luterano | Reprodução

Primeiros anos
Não se sabe com precisão a data de fundação ou de início das atividades do coral da Comunidade Luterana de Brusque, porém, sabe-se que desde 1903 havia um coro. Na época, houve pedidos por melhor iluminação na igreja para os ensaios.

De acordo com o pastor Werner Brunken, que foi o pastor da comunidade brusquense entre os anos de 1968 e 1980, quando a igreja foi inaugurada, em 1874 já devia existir um coral em atividade. Ele conta que, na década de 1880, quando o pastor Von Czekus atuava na comunidade, os cultos eram feitos apenas cantados. “Ele valorizava muito a música e tinha muitos trabalhos nesse sentido”, diz.

O interesse pela música sempre esteve presente na comunidade: documentos da igreja mostram que, em 1882, o pastor realizava cultos à noite, com ensaios de cantos. Havia também uma orquestra composta por violino, viola, contra-baixo, órgão e piano.

Mais tarde, em 1924, já após a fundação do grupo de canto que existe até hoje na igreja, há registros de apresentações do coral em uma Conferência Pastoral realizada em Brusque e também no Clube de Caça e Tiro Araújo Brusque. Também neste ano, o coral se apresentava com regularidade nos cultos festivos, muito pelo incentivo do pastor Ratach, como consta em documentos da igreja.

Já em 1929, a comunidade recebeu como doação seis trombones para a formação de um coro – esse grupo, na década de 1940, era dirigido por Erico Krieger. Na mesma época, o coral misto da igreja voltava a ganhar forças, sob a regência de Aldo Krieger, após uma paralisação por motivos desconhecidos na década de 1930, quando as apresentações eram apenas do coral masculino. A primeira apresentação fora de Brusque aconteceu nesse período, em 1958, em Joinville.

Regentes
Muitos maestros passaram pelo coral nessa história mais do que centenária. Não há registros de quem foram os regentes nos primeiros anos: antes de 1920, o que se sabe é que, provavelmente, quem estava à frente do coro era Reinoldo Graupner – o que se tem certeza é que ele regia o Coral de Homens de Brusque, que ensaiava no Clube Bandeirantes.

O resgate histórico recuperou os nomes dos regentes a partir de 1920. O primeiro de que se tem registro é Ludwig Lübke (1920-1925). Dentre os vários nomes, estão o compositor Aldo Krieger (1940-1964) e o pastor Lindolfo Weingartner (11986-1987).

“Sabemos que os regentes, na sua maioria, eram pessoas que possuíam o dom da música. Nunca frequentaram uma escola de música, apenas eram auto-didatas. Usavam seu dom a favor da música na comunidade e era ali, muitas vezes, sua escola musical”, de acordo com documentos históricos da igreja.

Quem também relembra os regentes que passaram pelo coro é a ex-coralista Dorly Teske, que cantou por quase 50 anos. Ela passou a integrar o grupo ainda na época de Aldo Krieger, em 1948. Depois do pastor Lindolfo, quem assumiu foi a esposa do pastor Wilbert, Loni Wilbert.

“Ela ficou por vários anos também, até eles irem embora de Brusque. Depois, se não me engano, veio o Anderson Nascimento, que ficou até 1997. Foi um ótimo regente, com ele gravamos o CD do coral, em Curitiba”, conta.

Hoje, quem está à frente do coral é o maestro Denilson Creuz, que começou a reger o grupo em 2008.

O famoso órgão da Igreja Luterana de Brusque

As vozes do Coro Luterano de Brusque são sempre acompanhadas por instrumentos musicais. Desde o início, a comunidade luterana contava com harmônios: a inauguração da primeira capela, em 1872, contou com um harmônio doado pela Fundação Gustavo Adolfo, de Stuttgart, conforme consta nos registros da igreja.

O instrumento foi vendido em 1904, já após a aquisição de um novo. No ano de 1900, o mais novo harmônio foi inaugurado no culto de Natal. Ele foi comprado com a ajuda da comunidade, que emprestou o dinheiro necessário. Esse instrumento resistiu até 1940, quando o Cônsul Carlos Renaux doou um órgão à igreja.

Este novo instrumento foi inaugurado em 1942, juntamente com a reinauguração da igreja. A organista Hildegard Hoffmann tocou músicas sacras e o Coral de Trombones também se apresentou. Anos mais tarde, esse órgão foi vendido para uma comunidade de Itajaí, porém, como algumas peças se perderam, ele não foi montado novamente.

O atual órgão que acompanha o coral da Igreja Luterana foi adquirido em 1958, e a compra foi feita com ajuda da comunidade: a campanha foi iniciada por Aldo Krieger e cada família comprou uma flauta do instrumento. Empresas da cidade também colaboraram e, em 1960, o órgão foi inaugurado em um grande concerto, com o pastor Willi Stein, de Rio do Sul, como organista. Construído em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, o órgão da marca Bohn possui 1,2 flautas flautas.

“O órgão de tubos da igreja tem um valor incalculável no sentido espiritual, cultural e sentimental. Através da música e canto a comunidade testemunha sua fé e sua devoção a Deus”, diz o pastor Cláudio Schaefer. De acordo com ele, instrumentos como este fazem parte da tradição religiosa luterana.

Convite de inauguração do órgão da Igreja Luterana

Reprodução do convite para concerto de inauguração do atual órgão da Igreja Luterana, em 1960.

Dorly Teske, que foi coralista na época da instalação do órgão, relembra o quando o maestro batalhou pelo instrumento: “O Aldo Krieger foi o instalador do órgão de tubos. É maravilhoso escutar, ele tem um som lindo, e ainda acrescentado à acústica da nossa igreja. Colabora muito com os cantos”.

“Temos uma eterna gratidão ao maestro Aldo Krieger, que tornou realidade o sonho de termos este instrumento musical na igreja, bem como aos benfeitores que ao longo de quase 60 anos ajudam na sua conservação”, diz Schaefer.

O pastor conta que a comunidade contava com organistas voluntários, e destaca a colaboração de Rainério Krieger e de sua filha, Rafaela. Nos últimos vinte anos, a igreja contratou um músico, o organista Anderson Klabunde, para acompanhar os cultos nas manhãs de domingo.

Reformas
Em 2014, o instrumento que é marca registrada dos cultos da igreja passou por uma reforma. Antes, já havia tido reparos pontuais – porém, a intenção era renovar toda a parte mecânica.

À época, o pastor Claudio Schaefer afirmou ao jornal O Município que seria uma reforma como nunca havia sido feita no órgão, para que o som saísse melhor. A restauração foi necessária tanto pelo tempo do instrumento quanto pela ação de cupins, que danificou o órgão.

“Na ocasião da restauração da igreja, aproveitamos para restaurar também o órgão de tubos. Tivemos a alegria de conseguir trazer o filho do mestre organeiro que construiu nosso órgão em 1959, da empresa Órgãos Bohn”, conta o pastor.

O mestre organeiro e a equipe fizeram uma revisão e restauração total do instrumento, tornando-o híbrido, ou seja, pneumático e eletrônico. Os investimentos passaram de R$ 100 mil e foram custeadas por um benfeitor.